terça-feira, 12 de junho de 2007

A TROCA DE LETRAS E FONEMAS DE L.





















Vicente Martins
Universidade Estadual Vale do Acaraú
E-mail: vicente.martins@uol.com.br



I - RELATO DO CASO DE DISLEXIA

Após ler artigo meu publicado no site http://www.psicopedagia.com.br, recebo e-mail de uma mãe que me solicita orientação para lidar com a dislexia de seu filho de 9 anos.

A mãe diz ter notado que seu filho L., de 9 anos, atualmente cursando a 3ª série apresenta dificuldade de leitura e tende a trocar letras como "b e d" e se confunde com o som de sílabas como "se e es", o que, segundo meu entendimento, enquadra-se em um caso de dislexia pedagógica.

Segundo a mãe, o processo de alfabetização do L. foi deficiente, pois ele não chegou a cursar o pré-primário (educação infantil), passou do 2º período pré-escolar diretamente para a 1ª série do ensino fundamental.

Diz a mãe que embora ele não tenha dificuldade de compreensão e entendimento, apresenta uma leitura difícil e lenta, muitas vezes se perde durante a leitura de uma frase, como se apresentasse uma distração na hora de ler.

A mãe indaga como a família deve proceder para ajudá-lo. "A quem devo recorrer?", indaga a mãe.

II - COMENTÁRIO SOBRE O CASO

O primeiro ponto a considerar, quanto ao contínuo do fluxo ideal da faixa etária, na educação básica, uma criança, aos 9 anos, deve estar na terceira série ou no quarto ano do ensino fundamental, que é o caso de L. Mas, ao chegar ao 4º ano do ensino fundamental, a criança deve ter acesso ao código escrito, especialmente ser hábil na leitura em voz alta e compreender um texto simples.

O fato de L não ter cursado a educação infantil, etapa da educação básica, em especial a pré-escola, não tem, a rigor, implicações para a habilidade leitura. Na educãção infantil, o papel da escola é desenvolver habilidades lingüísticas mais atinentes à linguagem e não à língua, isto é, a estrutura sonora ou grafêmica da língua portuguesa.

E o que a linguagem? A linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar idéias ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos, gestuais etc. Um grande papel da escola na educação é mostrar as funções da linguagem de forma lúdica, como preparando a criança para o mundo metalingüístico.

Na educação infantil, enfatiza-se a linguagem. No ensino fundamental e no ensino médio, focaliza-se a metalinguagem ( uma linguagem (natural ou formalizada) que serve para descrever ou falar sobre uma outra linguagem, natural ou artificial. Conhecer os fonemas da língua, isto é, vogais, semivoagsie e consoantes é adquirir, pois, um conhecimento metalingüístico, estritamente gramatical.


A troca de letras, na verdade, grafemas, resulta da dificuldade do traçado de algumas letras, especialmente as minúsculas, levando em conta o aspecto caligráfico ou espacial. Segundo a mãe " ele apresenta dificuldade de leitura e tende a trocar letras como "b e d" e se confunde com o som de sílabas como "se e es".

A outra motivação, para troca de letras, refere-se ao aspecto fonológico, o que revela uma dificuldade quanto à sonorização da palavra. O que há por trás de toda a dificuldade é uma dificuldade de percepção visual(grafemas) ou auditiva(fonemas).

Para os que profissionais de educação escolar que vão educar cm as dificuldades de L., antes de tudo, devem atentar para os seguintes conceitos de grafema e fonema:

a) devemos entender por grafema, à luz da Lingüística, a unidade de um sistema de escrita que, na escrita alfabética, corresponde às letras (e tb. a outros sinais distintivos, como o hífen, o til, sinais de pontuação, os números etc.).

b) Fonema, no campo da Lingüística Estrutural, deve ser entendido como unidade sonora da fala ou som da fala ou, mais precisamente, uma unidade mínima das línguas naturais no nível fonêmico, com valor distintivo (distingue morfemas ou palavras com significados diferentes), porém ele próprio não possui significado. Em português as palavras faca e vaca distinguem-se apenas pelos primeiros fonemas/f/ e/v/.

Ainda sobre fonema, não não se pode confundir os fonemas inteiramente com as letras dos alfabetos, porque estas freqüentemente apresentam imperfeições e não são uma representação exata do inventário de fonemas de uma língua.


Vicente Martins é professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, estado do Ceará. E-mail: vicente.martins@uol.com.br

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